30 de maio de 2013

Nós, os marginais!

Quando alguém lê o termo marginal, na maioria das vezes, o que vem à cabeça deve ser: "ladrão", "bandido", "drogado", entre outros nomes. Quem pensa dessa maneira não está de todo errado, pois de acordo com o dicionário Aurélio de Língua Portuguesa, marginal significa: vagabundo, delinquente, fora da lei, mendigo e também algo feito ou elaborado à margem de algum assunto. E é sobre isso que irei escrever.

Para quem não sabe, não somente em Itatiba como no Brasil em geral, e em muitos países do mundo, ninguém pode expressar aquilo que realmente sente. Toco em uma banda de rock, muitos chamam de hardcore ou rock pauleira, com letras e músicas próprias, não fazemos versões ou covers, se bem que temos uma ou duas músicas do Ratos de Porão que estamos muito a fim de tocar. Isso não vem ao caso agora, o que interessa é que temos cerca de 20 canções próprias e nossos shows não passam de meia hora de duração.



Há cerca de dois anos, a secretaria de Cultura, ou de falta de cultura, de Itatiba abriu inscrições para que bandas da cidade, independente de estilo, levassem material para realizar cadastro e vir a tocar em algum evento na cidade. Assim que as inscrições foram abertas, levei os dados da banda junto com um CD com algumas faixas. Desde então, estou no aguardo de um chamado para poder participar de algum evento. E mais de dois anos se foram e até agora nada. Por quê?

A resposta é muito simples, segundo algumas pessoas, nosso som não é feito para a família itatibense, com isso, não podemos nos apresentar em eventos que a prefeitura organiza. Isso para mim é censura, quem tem que saber o que é bom para o povo, é o próprio povo, uma ou duas pessoas não podem decidir o que a população deve ou não ouvir. E isso não ocorre apenas com minha banda, mas com bandas e trabalhos de outras pessoas. As alegações para não abrir espaço são sempre as mesmas, quando o assunto é música: "vocês não tem repertório para uma hora e meia", "nós gostamos de rock, mas de rock clássico, esses mais pauleiras é difícil aturar", entre outras balelas. Engraçado que a maioria nunca ouviu uma banda que faz o chamado “rock pauleira”.



Entre tantas desculpas, o tempo continua passando e várias atrações, muitas de gosto duvidoso, passaram por eventos na cidade, levaram uma grana e nós, que fomos colocados à margem da cultura itatibense, continuamos tocando, ensaiando e compondo músicas em nossas garagens, esperando que algum amigo de outra cidade abra espaço e nos leve para tocar, não porque somos amigos dos organizadores, mas sim porque eles ouviram a banda e entenderam o que ela queria dizer, eles simplesmente não marginalizaram, assim como os pseudo intelectuais fizeram, pois é mais fácil e cômodo você marginalizar algo do que realmente entender, ou ao menos tentar.

E, infelizmente, isso não ocorre somente na área da música, ocorre com poetas, artistas plásticos, escritores e em outras formas de manifestação cultural, além de que, atualmente, parece que cultura é aquilo que aliena o povo e o impede de pensar. Mas, se para participar de algum evento qualquer, eu tenha que abrir mão de minhas ideias, prefiro continuar à margem de tudo isso, pois no fundo não me sinto marginalizado, mas sim censurado.

Por isso, é sempre bom estar atento a tudo e todos. O comodismo atualmente é algo que sufoca e impede que algumas pessoas façam algo realmente útil em suas vidas. E quando alguém faz, sempre os acomodados farão algo para impedir que eles mostrem suas ideias, pois eles temem que seu castelo de cartas venha abaixo. E como ficarão suas vidas pseudo-felizes?



Termino meu relato com trechos de uma música dos Garotos Podres "Censura Idiota": "Censuram ideias, expropriaram o pensamento, não há mais, saída para ninguém. Impuseram a farsa, democracia autoritária...".

Ivan Gomes - editor do Fanzine/blog Canibal Vegetariano, produtor e apresentador do programa A HORA DO CANIBAL e guitarrista da banda Mão de Vaca.

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