Quando
alguém lê o termo marginal, na maioria das vezes, o que vem à cabeça deve ser:
"ladrão", "bandido", "drogado", entre outros
nomes. Quem pensa dessa maneira não está de todo errado, pois de acordo com o
dicionário Aurélio de Língua Portuguesa, marginal significa: vagabundo,
delinquente, fora da lei, mendigo e também algo feito ou elaborado à margem de
algum assunto. E é sobre isso que irei escrever.
Para quem
não sabe, não somente em Itatiba como no Brasil em geral, e em muitos países do
mundo, ninguém pode expressar aquilo que realmente sente. Toco em uma banda de
rock, muitos chamam de hardcore ou rock pauleira, com letras e músicas
próprias, não fazemos versões ou covers, se bem que temos uma ou duas músicas
do Ratos de Porão que estamos muito a fim de tocar. Isso não vem ao caso agora,
o que interessa é que temos cerca de 20 canções próprias e nossos shows não
passam de meia hora de duração.
Há cerca de
dois anos, a secretaria de Cultura, ou de falta de cultura, de Itatiba abriu inscrições
para que bandas da cidade, independente de estilo, levassem material para
realizar cadastro e vir a tocar em algum evento na cidade. Assim que as
inscrições foram abertas, levei os dados da banda junto com um CD com algumas
faixas. Desde então, estou no aguardo de um chamado para poder participar de
algum evento. E mais de dois anos se foram e até agora nada. Por quê?
A resposta
é muito simples, segundo algumas pessoas, nosso som não é feito para a família
itatibense, com isso, não podemos nos apresentar em eventos que a prefeitura
organiza. Isso para mim é censura, quem tem que saber o que é bom para o povo,
é o próprio povo, uma ou duas pessoas não podem decidir o que a população deve
ou não ouvir. E isso não ocorre apenas com minha banda, mas com bandas e
trabalhos de outras pessoas. As alegações para não abrir espaço são sempre as
mesmas, quando o assunto é música: "vocês não tem repertório para uma hora
e meia", "nós gostamos de rock, mas de rock clássico, esses mais
pauleiras é difícil aturar", entre outras balelas. Engraçado que a maioria
nunca ouviu uma banda que faz o chamado “rock pauleira”.
Entre
tantas desculpas, o tempo continua passando e várias atrações, muitas de gosto
duvidoso, passaram por eventos na cidade, levaram uma grana e nós, que fomos
colocados à margem da cultura itatibense, continuamos tocando, ensaiando e
compondo músicas em nossas garagens, esperando que algum amigo de outra cidade
abra espaço e nos leve para tocar, não porque somos amigos dos organizadores,
mas sim porque eles ouviram a banda e entenderam o que ela queria dizer, eles
simplesmente não marginalizaram, assim como os pseudo intelectuais fizeram,
pois é mais fácil e cômodo você marginalizar algo do que realmente entender, ou
ao menos tentar.
E,
infelizmente, isso não ocorre somente na área da música, ocorre com poetas,
artistas plásticos, escritores e em outras formas de manifestação cultural,
além de que, atualmente, parece que cultura é aquilo que aliena o povo e o
impede de pensar. Mas, se para participar de algum evento qualquer, eu tenha
que abrir mão de minhas ideias, prefiro continuar à margem de tudo isso, pois
no fundo não me sinto marginalizado, mas sim censurado.
Por isso, é
sempre bom estar atento a tudo e todos. O comodismo atualmente é algo que sufoca
e impede que algumas pessoas façam algo realmente útil em suas vidas. E quando
alguém faz, sempre os acomodados farão algo para impedir que eles mostrem suas
ideias, pois eles temem que seu castelo de cartas venha abaixo. E como ficarão
suas vidas pseudo-felizes?
Termino meu
relato com trechos de uma música dos Garotos Podres "Censura Idiota":
"Censuram ideias, expropriaram o pensamento, não há mais, saída para
ninguém. Impuseram a farsa, democracia autoritária...".
Ivan
Gomes - editor do
Fanzine/blog Canibal Vegetariano, produtor e apresentador do programa A HORA
DO CANIBAL e guitarrista da banda Mão de Vaca.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe-nos um comentario,aceitamos sugestões!