Por Ivan Gomes
Depois de acompanhar três apresentações de ótimas bandas do atual cenário independente do Brasil, veio o pensamento de nosso famigerado “complexo de vira-latas” que ostentamos e parece que fazemos questão de exibi-lo. Os shows que acompanhei foram de três bandas que seguem vertentes diferentes do rock e três pontos distintos de nosso país: Rio Grande do Sul, São Paulo e Rio Grande do Norte.
As bandas que acompanhei são ótimas, sérias em que se propõem a fazer e estão sempre em turnê e em estúdios para gravação de discos e singles. Qualidade musical para elas não falta e seus músicos são muito bons em seus instrumentos e não devem nada a ninguém de qualquer outro ponto do planeta.
Mas como somos brasileiros e carregamos em nosso histórico séculos de exploração, ainda nos sentimos inferiores em comparação com pessoas de outros países e não temos hábito de valorizar aquilo que temos e sempre buscamos novidades e alternativas em algum outro recanto do planeta, como se fora tudo fosse bom. Pessoas boas e ruins há em qualquer lugar, isso independente de sua naturalidade, por isso é preciso olhar com mais atenção ao que temos ao nosso lado e não ficar na busca pelo inalcançável.
Nevilton - Foto de Francine Romagnoli
Nevilton - Foto de Francine Romagnoli |
No dia que desloquei-me, na companhia de um amigo, pouco mais de 40 quilômetros para acompanhar as bandas, notei que ao final do evento este não recebeu o público merecido, com isso fiquei a refletir sobre a situação e lembrei-me que há cerca de duas semanas, o Brasil havia sido palco do festival Lolapalloza, realizado no autódromo de Interlagos, em São Paulo.
O festival que é mundialmente conhecido, tem estrutura imensa e por onde passa chama atenção. São dois dias de atrações que se apresentam em vários palcos e quem não consegue comparecer ainda pode acompanhar transmissão ao vivo pela TV, desde que seja em canal pago. Como diz um antigo ditado, “não existe almoço grátis”. Para acompanhar esses shows “in loco” a pessoa precisa desembolsar uma boa quantia de seu salário. Se não me engano, cada dia teve o custo de pouco mais de R$ 300, apenas a entrada, fora alimentação e outros custos, todos altos, os preços são inflacionados nestes locais.
Acompanhei o primeiro dia de apresentação pela TV, que também tem alto preço se analisar custo/benefício. Acompanhei desde as primeiras apresentações até a última, do estadunidense Jack White. Foram horas em frente ao aparelho televisor. Dois canais de transmissão simultâneos e houve muitos momentos em que ficava à procura de filmes ou qualquer outro lance que o valha, pois havia muita banda ruim escalada para tocar. Havia bandas brasileiras que ainda se sujeitam a tocar no momento em que as pessoas chegam ou estão para chegar.
Porcas Borboletas - Foto de Letícia Senciani |
Palco gigante, equipamentos de qualidade indiscutível, mas onde estava o rock? Com exceção de Jack White, alguns lampejos do ex-vocalista do Led Zeppelin, Robert Plant, e uma música ou outra do Kasabian, o festival foi um porre e mesmo com o abuso no preço do ingresso, havia muita gente no local. Bandas ruins e muita gente cantou junto, mesmo em outra língua.
Aí você vai a um local pequeno, com ótimas bandas, com preço justo pela entrada, geralmente o custo varia entre R$ 10 e R$ 20, há bancas com discos e todo tipo de merchandising, mas sempre há os comentários ignóbeis como: “nunca ouvi falar dessas bandas”; “são daqui mesmo?”; “tocam músicas próprias?” Além de tudo isso, em várias ocasiões, se você gostar da banda, você pode comprar algo direto com quem acabou de tocar e ainda conversar e até mesmo tomar um suco, cerveja, refrigerante com quem estava há pouco no palco. Isso não faz diferença para muitos, mas ainda bem que existem aquelas pessoas que estão sempre em busca de novidades e desbravam locais para shows e apresentam bandas.
Black Drawing Chalks - Foto de Letícia Sensiani |
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