Por Quique Brown
O que Natal, São Bernardo e São Paulo têm em comum? No quesito cultura colaborativa, mais do que você pode imaginar. Na última semana, Daniela Verde, do Edith Cultura, publicou aqui um texto chamado "Sonho ou realidade possível?". Ela falava sobre o Festival Baixo Centro, que
rolou no centro de São Paulo, na semana passada, graças à interação de vários
grupos culturais em uma ação coordenada sob o mesmo “teto”. Na ocasião, o Edith
organizou uma mostra de filmes infantis pra criançada de uma área ocupada.
Aproveitando a deixa, vou soltar duas experiências que vivi com o
Leptospirose em eventos semelhantes. O primeiro aconteceu em Natal (RN), em uma
parceria entre o poder público, a sociedade civil e uma grande empresa, quando
vários espaços diferentes organizaram um festival integrado. O segundo foi em São Bernardo do Campo
(SP), num espaço gigante da prefeitura (provavelmente uma fábrica desativada),
que abriga vários pólos. Vamos aos fatos:
Leptospirose - Fonte: http://www.flickr.com/photos/dosol |
Domingo, 7 de agosto de 2011 | Conexão Vivo
| Natal-RN
A parte baixa do Bairro da Ribeira, em
Natal, abriga uma série de bares e centros culturais dos mais variados estilos.
O Projeto Conexão Vivo promoveu na região, durante boa parte do ano passado, no
primeiro domingo de cada mês, uma ação conjunta com boa parte dos bares e
centros culturais da região. A iniciativa deu origem a um conglomerado imenso
de shows, peças, mostras, oficinas, etc. Tudo grátis, pra todo mundo! Cada
espaço tinha autonomia total para cuidar da sua programação e, pelo menos no
dia em que tocou o Leptospirose, o sucesso do evento foi fenomenal. Muita gente
circulando pelas ruas do bairro, entrando e saindo dos bares e centros
culturais, cortejos, blocos e bandas pela rua, o dia inteiro, sem pausa!
A gente tocou no DoSol, clássico centro
cultural de Natal, que organiza todos os anos o Festival de mesmo nome e é
gerido pelo casal Foca e Ana Morena. Eles já estiveram duas vezes em Bragança
com tocando com sua banda, Camarones Orquestra Guitarristica e dando palestra.
Depois do Leptospirose, tocou MC Priguissa (com dois ésses mesmo) dono de um
reggae/dub/rap/funk/safado. Fiquei imaginando como seria a recepção do público
camiseta-preta-de-caveira com o som dos caras. Quando saí do camarim, tomei um
susto muito doido, já não tinha nenhum caveirista no ambiente, era só a galera
descendo até o chão (se é que você me entende). Aproveitar-se de espaços e
produtores que estão em ação é o que há! Mas sem muita filosofia. Vamos pro
próximo tópico:
Quique Brown, Anderson Foca e Velhote - Fonte: http://www.flickr.com/photos/dosol |
Domingo, 19 de fevereiro de 2011 (carnaval)
| Hardcore Contracultura | São Bernardo do Campo (SP)
Juninho, produtor do nosso último disco,
nos chamou pra tocar durante o carnaval em São Bernardo do
Campo. Na minha cabeça, íamos tocar numa pista de skate mas, o que eu
encontrei, foi algo sinistramente maior. O show aconteceu num espaço chamado
Cajuv (Coordenadoria de Ações para a Juventude) que, na verdade, é um espaço
dentro de outro bem maior (provavelmente uma fábrica desativada). O local
abrigava vários outros espaços, tipo Centro de Referência ao Idoso, Programa de
Atendimento ao Trabalhador, Conselho Tutelar.
O Cajuv oferece várias dezenas de cursos
para os jovens da cidade, desde violino e auxiliar administrativo até DJ de
casa noturna e skatista (em várias modalidades), passando por história em
quadrinhos, jazz, gestão de projetos, entre outros. Não houve consumo de
bebidas alcoólicas no local e, após os shows, todos os presentes desfrutaram de
uma maravilhosa macarronada de arroz com legumes.
Além desse show de hardcore, o Centro de
Referência ao Idoso organizou um carnaval de marchinhas no seu “local” e,
durante todo o evento de rock, foi possível ver muitos avós dando um “tempo” no
nosso show - com seus netos fantasiados de Batman, pirata, Cinderela etc.
No intervalo dos shows, rolaram oficinas de
estêncil, filmes, debates e sorteio de shapes.
Do início até o fim do rock, quem tava com o skate debaixo do braço pode
desfrutar de uma boa volta ou na miniramp que tinha do lado direito (próximo ao
camarim) ou na pista de street que ficava do lado esquerdo (próximo ao
banheiro).
Nesse contexto, por que Bragança Paulista
não aproveita a onda colaborativa, tanto com movimentos organizados da
sociedade civil, quanto com ações (já existentes ou provocadas) da iniciativa
privada? Quem sabe quando voltarmos a falar do assunto nesse espaço, possamos
incluir a cidade entre as que têm algo em comum com tantas outras, como Natal,
São Bernardo e São Paulo.
Circuito Cidade 2011 - Cineclube com Beto Brant e Renato Ciasca Foto de Guilherme Yuji |
Quique Brown é pedagogo, fundador/colaborador do Edith
Cultura, sócio-diretor da Escola de Música Jardim Elétrico, autor do livro
"Guitarra e Ossos Quebrados", produtor do "Cardápio
Underground", além de guitarrista e vocalista da banda Leptospirose.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe-nos um comentario,aceitamos sugestões!