30 de agosto de 2012

A política do underground


Por Ivan Gomes

Como estamos às vésperas de mais uma eleição, aproveito a oportunidade para escrever sobre política, sobre o que ela tem a ver com nosso cotidiano e também, porque não, o que tem a ver com o rock'n'roll e com a cultura do rock independente ou underground.

Quando andamos pelas ruas, ou sentamos em algum bar, ou qualquer outro lugar em que há reunião de pessoas, é comum ouvir "odeio política". Já virou banal usar um termo como esse, mas as mesmas pessoas que fazem uma afirmação como esta, não sabem o que é realmente política. A política é referente à comunidade, à sociedade e etc.

Porcas Borboletas - Foto de Thichi
E como fazemos política no underground? Isso é simples. No início deste mês de agosto, organizei um evento com três bandas independentes em Itatiba. O local escolhido, como sempre foi o Bar do Celso, único ponto que abre espaço para bandas que tocam músicas próprias. As bandas convidadas foram: Espasmos do Braço Mecânico (São Bernardo do Campo), Gatilho (Itatiba) e Bad Cookies (Guarujá).

Com data, local e bandas definidas, começaram as conversas para empréstimos de equipamentos, divisão de tarefas entre as bandas, o que cada uma deveria trazer, qual seria a primeira, qual encerraria o evento, tempo de apresentação, espaço para comercialização de CDs, camisetas e outros objetos.

Bambix - Foto de Du Ozaki
Você pode pensar sozinho sobre um show, mas jamais realizará sozinho. Há cartazes para serem desenhados, espalhados pela cidade, divulgados via internet, entre outras formas de divulgação, para mostrar o que pode vir a ser o evento. Para isso, gasta-se gasolina, solados de tênis, muita saliva, muito suor.

No dia do evento tem que carregar equipamento, montar, ajustar, ficar no aguardo da chegada do público, das bandas. Com tudo pronto, o público anima-se, curte, canta, pula, “poga” entre outras loucuras que só um show de rock pode proporcionar. Não há nesses momentos, brigas, não há diferença social, nem religiosa e muito menos sexual. No momento em que as bandas disparam seus riffs e acordes, o mundo transforma-se em uma grande espaçonave, todos viajam, todos curtem, todos se divertem.

Nevilton - Foto de Francine Romagnoli

E como é comum no rock, muitas bandas usam de seus shows para falar sobre suas ideologias, seja através das letras, das canções ou do comportamento sobre o palco. A consciência de viver com as diferenças ocorre sem o menor problema. As críticas são absorvidas e inconscientemente as pessoas que ali estavam levam aquilo com elas.

Ao final da apresentação, pessoas se cumprimentam, se abraçam, convidam outras pessoas para dividir a cerveja, o refrigerante, a porção de batata frita. As pessoas fazem economia, elas consomem, elas pedem desconto, elas comparam o movimento daquele local com os de suas cidades. Elas tentam levar a experiência adquirida para sua rua, sua casa e tentam aplicar o que presenciaram.

Muzzarelas/Cardápio Underground 2008 - Foto de Felipe Gonçalves
Por isso, se um show de rock não é um ato político, não sei mais o que é. Diversidade sexual, etária, social, todos unidos por um único motivo: ouvir e compartilhar momentos de boa música. E no dia do evento, as bandas ficam insaciáveis, querem mais e mais e o público aproveita para acompanhar boas horas de rock, o rock feito de maneira humana, sem frivolidades, com músicos que não se conheciam até então, trocando ideias, experiências, ajudando na regulagem de equipamentos, emprestando, divertindo os outros e a si mesmo.

Organizar um show de rock, de poucas ou muitas horas, é, sem dúvida, fazer política. Você que vai a shows, que compra discos, camisetas e fala sobre suas bandas preferidas, está fazendo política. Assim como o rock, a política está presente em nossas vidas a toda hora, em qualquer lugar. Não deixe ser contaminado pelo que a mídia divulga, pois o que os chamados "políticos" fazem está muito longe de ser política. Política é a ideologia do dia-a-dia e ela é uma arte, assim como o rock'n'roll.

Cripple Bastards/Rock na 9 - Foto de Du Ozaki

Ivan Gomes, 34, é editor do blog Canibal Vegetariano.

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