2 de novembro de 2012

Entre crises e cicatrizes


E 2012 prepara-se para dizer adeus. Agora, se o mundo não acabar em dezembro, que venha 2013. Com ele renasce a esperança que dias melhores possam ocorrer. Quando um ano se inicia, as pessoas se enchem de esperança, trocas de gentilezas e entre outros votos. Conforme os dias passam e todos retomam suas rotinas, nota-se que nada será diferente e continuam tocando cada um a sua vida.
O cenário musical apresentou grandes shows no Brasil durante este ano, principalmente de nomes considerados importantes, como foi o caso do Foo Fighters, no Lollapallozza. O cenário independente também esteve bastante agitado, com várias bandas que lançaram discos, casos como Merda (Índio Cocalero) e Estudantes (Pedras Portuguesas na sua Cabeça). Houve bons shows e muitos tentaram agitar alguns movimentos para apresentar bandas que estão no começo de suas carreiras ou que há anos batalha espaço entre os independentes.
 Nesses dez meses, nós acompanhamos o agravamento da crise mundial, ou a crise do capitalismo que dá mostras cada vez mais nítidas que este é um sistema em colapso e mais cedo ou mais tarde virá abaixo. Os governos injetaram milhões e milhões de dólares em bancos privados e mostraram mais uma vez que o que interessa é produzir, é explorar. Enquanto o governo brasileiro injeta grana na indústria, corta verba da saúde, da segurança, da educação. Aí perguntamos: qual o futuro da nação?


 Alguém também pode se perguntar: o que o Rock'n'Roll tem a ver com isso? Tudo. Quantas pessoas perderam seus empregos nesses meses? Quantos estudantes de música deixaram de estudar devido ao desemprego? Quantas pessoas abriram mão de sair aos finais de semana e se divertir devido a falta de dinheiro? Aumento de preço dos discos. O encerramento de pequenos comércios que trabalhavam com música. Quantas revistas especializadas deixaram de ser publicadas?
Que os governantes, os novos e os reeleitos, acordem e vejam o quanto é importante não apenas investir em formação profissional, mas em formação de pessoas, investir em cultura e educação é investir em um mundo com mais oportunidades, uma sociedade pensante e culta se torna menos violenta, menos hipócrita. Uma sociedade em que pessoas tem acesso à cultura, não permite que governantes corruptos se perpetuem no poder, ou fiquem "pagando" de coitadinhos.


Enquanto mais as pessoas procuram se isolar, nós, os marginais, continuamos aqui, tocando em nossas bandas, correndo atrás de shows, agitando festivais, editando zines e blogs, procurando levar um pouco que seja de diversão e cultura para os outros. Procurando aprender e ensinar, dividir e compartilhar. Em quantos shows não vemos pessoas, às vezes, que nem se conhecem utilizando da mesma caixa de som ou do mesmo instrumento? Pois apesar de estranhos, tem o mesmo objetivo. Quantas amizades são feitas, quantas culturas diferentes conhecemos, porque se negar a fazer parte do mundo? Por que ficar construindo muros? Nós não devemos nos contentar em sermos cidadãos de nossas cidades, ou países e sim cidadãos do mundo, pois como dizia Sartre, "a vida é finita, porém ilimitada".
A crise perdurará, até o momento em que os governos investirem em grandes empresas falídas e não nos médios, pequenos e micro empresários. Até enquanto a educação continuar a ser tratada como uma piada e a cultura for desprezada. Que venham os novos tempos!

Por Ivan Gomes, editor do blog Canibal Vegetariano

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