19 de dezembro de 2014

Longe da Cidade das Trevas

(“Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las.”Voltaire)


Até onde um objeto estético pode interferir no dia a dia de um cidadão comum? O que é arte e, fora do aspecto religioso, o que significa todo esse clima natalino nesses tempos de volume morto? Essas são apenas umas das questões que nós podemos levantar quanto a tão polêmica árvore natalina realizada pelo artista plástico Magela Albuquerque.


Colocada bem no meio de um dos polos comerciais mais importantes da cidade, a árvore vermelha e seca de Magela, com seus penduricalhos que remetem a outras comemorações, de dias mais férteis por assim dizer, contrastada com o céu azul ainda árido, simbolizou muito mais do que os nossos dias de falta d´água e apreensão, o valor exagerado para os bens de consumo, a nossa diferente realidade natalina tropical bem longe dos padrões do exterior, aonde existem pessoas sim que sobrevivem do que a sociedade descarta e chama de lixo, à margem do desperdício das luzes de natal.


Desde o momento que foi cravada no chão já virou polêmica e colocou a terra da linguiça em um patamar onde outras grandes cidades do mundo já estiveram, como por exemplo Paris com a torre Eiffel no final do século 19 e muitos exemplos de intervenções urbanas dos dias atuais: estamos discutindo a arte no mundo, na sua formação de valores e na revolução individual que ela pode causar.



Quando aquela estrutura foi erguida, tanto o seu valor estético quanto o que ele sugeria, criaram um turbilhão na cabeça de muitas pessoas que simplesmente viravam a cara para o novo, e com aquilo ali, presente, face a face, não se contiveram e resolveram expor sua opinião, transformando o que seria uma tarde comum em uma esplêndida discussão sobre arte.


Os pros e os contras, artistas, comerciantes, açougueiros, extremistas, enfim, toda a sorte de pessoa, mostrando que ela, a arte estava de novo cumprindo uma das suas principais funções que é deslocar a humanidade da sua zona de conforto para o caminho de mundo melhor.


Intolerâncias e exageros à parte, o povo de Bragança Paulista está de parabéns. Aos que aceitaram a obra de braços abertos, pra vocês e pra gente, essa árvore entrou pra história da cidade pela porta da frente, simbolizando uma resistência artística ativa e a luta por um movimento pela arte contemporânea iniciada por Fábio Delduque e Carlão há mais de 10 anos e que não para.


Parabéns também aos críticos, aos questionadores e até mesmo aos intolerantes mais reacionários, essa reação da parte de vocês provavelmente vai influenciar seus filhos a agirem de forma contrária.


Como disse o próprio Fábio e  longe de estar nas trevas e de  ser uma cidade entrevada, Bragança está pronta pra receber as novidades que a arte possibilita, basta não só reciclar o lixo mas também o espírito.
Namastê

Charles Paixão é artista plástico e arte educador


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